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TORNEMO-NOS NÓS MESMOS

Dirty dance

TORNEMO-NOS NÓS MESMOS

A Música, o Luzeiro e o Tempo – por Mirianês Zabot

Quando a leveza de um filme, despretensiosamente nos faz pensar sobre os valores da sociedade e o quanto somos influenciados por eles…

Lançado em 1987, o filme “Dirty Dancing – Ritmo Quente” conta a história de Baby, interpretada por Jennifer Grey. A jovem vive cercada por pessoas que, há todo instante, tentam protegê-la dos supostos perigos do mundo, mesmo assim, ela se apaixona pelo marrento dançarino, Johnny Castle, vivido por Patrick Swayze (1952-2009). Tudo se passa no verão de 1963.

A roteirista e idealizadora do filme, Eleanor Bergstein, – especialista em enredos cuja dança é o tema central -, escreveu sobre sua própria história, usando inclusive seu apelido de juventude para batizar a mocinha: Baby. Eleanor, – até então a única a acreditar no projeto -, convidou a produtora Linda Gottlieb e o diretor Emile Ardolino, – um estreante em longa-metragem, que mais tarde viria a dirigir outro grande sucesso, “Mudança de Hábito” (1992). Após amargar com a recusa de 20 estúdios de cinema, o longa finalmente foi gravado por um pequeno estúdio e lançado no Festival de Cannes, recebendo diversos prêmios e indicações, como ao Globo de Ouro de Melhor Filme e de Melhor Ator/Atriz, pelas performances de Grey e Swayze. Alcançou ainda, um enorme sucesso de público e críticas, consagrando-se como o primeiro filme a vender mais de 1 milhão de cópias, em fitas VHS.

A narrativa questiona a hipocrisia na sociedade e nas famílias, enaltecendo a nobreza de coração e a bondade. A protagonista, Baby, tem personalidade forte, é justa, corajosa e lúcida, – apesar de sua pouca idade. Temendo a reação de seu pai, – homem que goza de privilegiado status social -, inicialmente ela não assume seu namoro com um instrutor de dança do resort onde ela e sua família costumam passar férias: o honrado e trabalhador, Johnny. Seguindo sua verdade, e não os projetos que a sociedade idealizava para jovens de sua posição, Baby, com seu olhar amoroso, – capaz de perceber o lado bom de todas as pessoas -, deixa aflorar sua essência generosa e altruísta, inspirando a todos.

No filme musical, a inocência da protagonista e os costumes vigentes na época, são musicalmente representados, em danças como os tradicionais Foxtrotes e Valsas. Fazendo um contraponto, temos a liberdade sexual e de ideias, preconizada pelos jovens dos anos 60 e ritmicamente demostrada no Rock and Roll, Rhythm and Blues e Pop. A ruptura com os antigos pudores também se faz presente nas danças do Merengue e da Patchanga. O repertório que animava as festas, concursos e números de dança ilustra, de forma muito inteligente, as constantes transformações do mundo, das pessoas e das tradições, aquilo que é tido como moderno, em instantes torna-se ultrapassado.

Com destaque para os passos limpos e elegantes de Patrick Swayze, os números de dança apresentados ao longo do filme são irretocáveis e magnéticos.

A contagiante trilha sonora de Dirty Dancing, – assinada por John Morris e Erich Bulling -, foi uma das mais vendidas dos anos 80 e garantiu um lugar na lista dos 200 álbuns definitivos do “Corredor da Fama do Museu do Rock and Roll”, instituição dedicada a registrar a história desse gênero musical, com sede em Cleveland, nos Estados Unidos.

Vejamos o repertório elencado para embalar essa apaixonante trama:

Não é por acaso que “(I’ve Had) The Time of My Life” tornou-se um clássico. A música, – que rendeu ao longa um Oscar e um Globo de Ouro de Melhor Canção Original -, traz um arranjo excepcionalmente criativo e bem resolvido. Além do marcante groove de guitarra e das inesperadas convenções da bateria, ela ainda tem um primoroso e inesquecível dueto de Bill Medley e Jennifer Warnes, merecedor do Grammy de Melhor Performance Pop de Dueto.

Aparecem também outras memoráveis músicas dos anos 50 e 60, como o Rockabilly “Hey Baby”, – grande sucesso de Bruce Channel -, e “Stay”, um Doo-Wop de Maurice Williams and The Zodiacs. Seguindo no clima das letras inocentes, vem “Be My Baby”, do girl group The Ronettes. Com a delicada interpretação de “Love Is Strange”, a dupla de R&B, Mickey e sua ex-aluna Sylvia, figuraram entre os 20 artistas mais importantes de 1957.

A nostalgia dá o tom em “In The Still Of The Night”, com harmoniosos vocais do grupo The Five Satins, no melhor estilo Doo-Wop. A música “Where Are You Tonight”, da carreira solo de Tom Johnston, – fundador do grupo The Doobie Brothers -, é uma mistura de Rock com Rhythm and Blues, que também ganhou um elegante arranjo vocal e um expressivo naipe de metais.

Já nas canções com digital mais Pop, Patrick Swayze emprestou sua voz para a balada “She’s Like The Wind”, bonita letra composta e co-produzida, – especialmente para o filme -, pelo próprio ator em parceria com Stacy Widelitz. Em “Hungry Eyes” temos a interpretação, – nada inocente -, de Eric Carmen, já em sua fase solo.

O Rock’n’Roll mais enérgico do repertório é “Overload”, composição e interpretação de Alfie Zappacosta, em parceria Marko Luciani. O Rock Soul “Yes”, ganhou vida na voz rasgada e intensa da cantora Merry Clayton. Encerrando a envolvente lista de músicas, temos a libertária “You Don’t Own Me”, um Blues da banda inglesa The Blow Monkeys.

Depois de 33 anos de espera, uma sequência de Dirty Dancing, – dessa vez com a atriz Jennifer Grey no elenco -, foi anunciada pelo estúdio Lionsgate. Mostrando que sempre é bem-vindo um filme com apontamentos de liberdade, autoconhecimento, caráter e almas gentis.

Em nosso íntimo, sabemos muito bem qual é o caminho que devemos seguir. Se olharmos para nós mesmos com atenção e carinho, teremos condições de distinguir situações que nos alegram e nos enchem de entusiasmo, daquelas tarefas que fazemos por simples obrigação, hábito ou porque alguém disse que deveríamos assim proceder. Para vivermos em paz, é importante separarmos as crenças que nos são genuínas, daqueles que a sociedade projetou para nós.

Deixemos que aquela criança, que um dia fomos, seja nossa guia para encontrarmos um ofício, um amor, um estilo de vida ou um jeito de ser, que preencha nossos dias com a verdadeira felicidade e nos conduza às mudanças necessárias para que nos tornemos nós mesmos.

Por Mirianês Zabot
* Texto publicado em 25/10/20 na coluna “Ouvimos”, do Cine.RG

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