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SETOR DE TECNOLOGIA GANHA COM A QUARENTENA

Vale do Silício

SETOR DE TECNOLOGIA GANHA COM A QUARENTENA

Se é possível dizer que houve um ganhador na pandemia, sem dúvida foi o setor de tecnologia.

Em questão de semanas, o serviço de videoconferência Zoom entrou para o vocabulário de milhões de pessoas mundo afora, tomando o lugar de uma das marcas mais conhecidas e antigas da internet, o Skype.

O consenso entre os analistas é de que a pandemia acelerou em anos a digitalização da vida das pessoas e das empresas, especialmente no setor de serviços.

Quem já tinha uma operação sólida de comércio eletrônico nadou de braçada. Quem estava atrasado teve de correr atrás do prejuízo.

O clima deveria ser de festa no Vale do Silício. Mas há quem enxergue sinais de mau agouro: será que a pandemia será o começo do fim da hegemonia do maior centro de inovação do planeta?

Num artigo publicado no Medium, o jornalista e editor Steve LeVine aponta a importância do acaso e das interações aleatórias como um dos motores mais importantes e menos compreendidos para o sucesso da indústria de tecnologia americana.

“Certo dia, Zuckerberg e seus amigos estavam andando por Palo Alto quando viram um rosto conhecido. Era Sean Parker, cofundador do Napster, o serviço de compartilhamento de músicas”, escreve LeVine.

“Já na semana seguinte, Parker tinha se mudado para a casa onde Zuckerberg estava criando o Facebook. No final daquele verão, ele abriria o canal que levou ao primeiro grande investimento na empresa – US$ 500.000 de Peter Thiel.”

A história do Facebook, que hoje vale US$ 750 bilhões na bolsa, é parecida com a de tantas outras que fazem parte de nosso dia a dia digital: jovens empreendedores que circulam nos mesmos ambientes, frequentam as mesmas festas, conhecem as mesmas pessoas.

Gente que pode fazer a diferença no futuro de uma startup existe em toda parte. Tantas concentradas no mesmo lugar? Só no Vale do Silício, um corredor de cerca de 80 quilômetros entre San Francisco, ao norte, e San Jose, ao sul.

Esse pequeno pedaço de terra nos Estados Unidos tem o terceiro maior PIB per capita do mundo, atrás apenas de Zurique (Suíça) e Oslo (Noruega), de acordo com o centro de estudos Brookings Institute.

LeVine argumenta que o trabalho remoto pode acabar com as condições únicas que transformaram o norte da Califórnia em uma região admirada, estudada e dificilmente copiada.

O Google já anunciou que seus cerca de 200.000 funcionários poderão continuar trabalhando de casa até meados do ano que vem.

Mark Zuckerberg disse esperar que até metade dos seus quadros trabalhe à distância permanentemente na próxima década.

A política mais agressiva foi do Twitter: a companhia anunciou que todos os funcionários podem fazer home office para sempre, se quiserem.

O corredor tecnológico da Califórnia já era uma das regiões de maior custo de vida nos Estados Unidos, e a pandemia deixou os imóveis ainda mais longe do alcance dos mortais.

O preço médio de uma casa no condado de San Mateo, que engloba parte do Vale do Silício, aumentou 19% nos últimos 12 meses e chegou a US$ 1,73 milhão.

Com esses valores, é mais provável que o dono da casa já tenha vendido sua startup, não que tenha planos de começar um novo negócio na garagem.

LeVine reconhece que nem todas as “serendipidades” são dramáticas a ponto de dar origem a companhias bilionárias. Mas a colaboração e os encontros casuais são parte do ethos das empresas de tecnologia e são essenciais não só para a faísca inicial de uma startup, mas para seu sucesso de longo prazo.

A sede da Apple, um edifício circular que custou US$ 5 bilhões e foi inaugurado há três anos, foi idealizada por Steve Jobs com o objetivo de promover interações e conexões casuais entre os 12.000 funcionários que o ocupam.

O fundador da empresa “acreditava muito na força dos encontros acidentais e sabia que a criatividade não é uma empreitada solitária”, nas palavras de Ed Catmull, um dos fundadores do estúdio Pixar.

Mas Tim Cook, presidente da companhia, afirmou no mês passado que algumas das mudanças trazidas pela pandemia da Covid-19 serão duradouras.

“Não acredito que vamos voltar ao que era antes porque descobrimos que algumas coisas funcionam muito bem virtualmente”, disse Cook.

Enquanto a maioria das empresas tenta enquadrar o trabalho à distância como um potencial ganho de qualidade de vida para os funcionários – apesar de a decisão ter sido imposta pelas circunstâncias –, Reed Hastings faz uma avaliação pessimista.

“Não vejo nada positivo em trabalhar de casa”, diz Hastings, fundador e co-CEO da Netflix, uma das empresas que mais cresceram durante a atual crise e que foi a tábua de salvação para muita gente durante o período de isolamento compulsório.

Em tom de brincadeira, ele afirmou ao Wall Street Journal que seus funcionários vão voltar ao escritório 12 horas depois da aprovação da vacina. “Provavelmente seis meses depois da vacina”, respondeu ele, falando sério.

 

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