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COMO CONHECI WISLAWA SZYMBORSKA

COMO CONHECI WISLAWA SZYMBORSKA

Em determinado momento do espetáculo teatral “Nós”, do grupo Galpão, dirigido por Marcio Abreu em 2016, o ator Paulo André abria um livro e lia um poema chamado “Agradecimento”:

“Devo muito aos que não amo/o alívio de aceitar que sejam mais próximos de outrem.”

Ao final da representação, o público era convidado a ir ao centro da arena dançar e confraternizar com o elenco. Aproveitei a oportunidade para espiar a capa do livro que restava sobre um dos móveis do cenário. Anotei mentalmente o difícil nome da autora: Wislawa Szymborska.

“A alegria de aceitar não ser eu o lobo de suas ovelhas.”

Pesquisando depois em casa, desnudei com os olhos os versos que ouvira.

“A paz que tenho com eles e a liberdade com eles/isso o amor não pode dar nem consegue tirar.”

Passei a repeti-los em voz alta – modo de apropriar-me de sua beleza e lucidez.

“Não espero por eles andando da janela à porta/Paciente, quase como um relógio de sol/entendo o que o amor não entende/perdoo o que o amor nunca perdoaria/Do encontro à carta não se passa uma eternidade, mas apenas alguns dias e semanas.”

Voltei a reencontrar outros poemas de Wislawa num espetáculo de dança do grupo Quasar e num show de Letícia Novais e Ana Cláudia Lomelino. Todos igualmente impactantes e precisos.

“As viagens com eles são sempre um sucesso/os concertos assistidos/as catedrais visitadas/as paisagens claras/E quando nos separam sete colinas e rios/são colinas e rios bem conhecidos nos mapas.”

Resolvi plagiar o Galpão e incorporei “Agradecimento” ao texto de uma peça que escrevi e que foi encenada num apartamento com o público a um palmo dos atores.

“É mérito deles eu viver em três dimensões/num espaço sem lírica e sem retórica/com um horizonte real porque móvel.”

Lamentavelmente, o ator, confundindo alta poesia com batatinha-quando-nasce-se-esparrama-pelo-chão, debulhava-se em lágrimas ao lê-lo. Não porque estivesse de fato emocionado, mas para exibir sua técnica. Pedi, implorei: por favor, este poema não pede choro. É uma lírica seca.

“Eles próprios não veem quanto carregam nas mãos vazias.”

Não adiantou: o ator passou a temporada chorando.

“Não lhes devo nada – diria o amor sobre essa questão aberta.”

Rodrigo Murat é escritor.

Imagem:Issuu

Agência Difusão

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