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QUEM VOCÊ NÃO GOSTARIA DE SER?

QUEM VOCÊ NÃO GOSTARIA DE SER?

Eu, o general Eduardo Pazuello.

Coitado! Que personagem errante! Até outro dia tinha um passado razoavelmente anônimo para chamar de seu, algum futuro calmo pela frente e agora está pulando carniça! Se raiva fosse pena, eu estaria me acabando de chorar em solidariedade a este antagonista equívoco, abstruso e anfigúrico que a História inventou de pôr no centro da sala de cada família brasileira como um bode – agora, entre outras coisas, expiatório. Boi de piranha que todos querem devorar – inclusive quem o pôs lá. Logo ele, conhecido por entender tanto de Logística, não foi capaz de prever para si a carrada de problemas? Nem houve esposa, filho, amigo, discípulo ou cartomante que o aconselhasse:
– Fica em casa, queridão! Vá pescar! Vá ler o “Orvil”! Vá cantar “Esperando na Janela” em festa de forró e ser feliz!
O que faz alguém aceitar o papel principal do Ministério da Saúde em tempo de pandemia e caos sem saber ao certo sequer o que é SUS? Susto? Oportunismo? Soberba? Submissão ao chefe? Então o avião está despencando, o comandante kamikaze escala um cego para pilotá-lo, e o sujeito, para espanto geral, aceita? O que é isso? Pegadinha de um manda, o outro obedece e a população que se dane?
– Tudo bem, se é pra jogar no chão, deixa que eu jogo.

Tem muito de Eros e Tanatos neste governo movido a ódio. O advogado canastrão que emergiu das sombras para nos assombrar declarou amor total ao chefe, e só não dançou um tango argentino com uma flor à boca porque teve de sair de cena antes. O chefe, por sua vez, está sempre entrando em novos relacionamentos – vide a Namoradinha do Brasil e os Namoradinhos De Arma em Punho; e dá-lhe metáfora de flerte, noivado, casamento, tudo num tom de conversa de boteco com direito a sanfona ecumênica e caipirinha de cloroquina rolando solta por conta da casa. Sem falar no pão com leite condensado, no chiclete, no bombom, na tubaína, na batata frita, no filho que fritava hambúrguer e queria ser embaixador… Todo esse folclore tosco se empilha na lembrança ratificando um modelo de mandato fundo de quintal, onde as questões mais sérias parecem se resolver na base do par ou ímpar, do zerinho ou um e da porrinha. O país chora e a cúpula copula e se locupleta.

Para me distrair de presente tão raso e sofisticar um pouco o discurso, fui ler o livro da Lilian M. Schwarcz e da Heloísa M. Starling sobre a gripe espanhola no Brasil – “A Bailarina da Morte”. Concluí que lá como aqui os ingredientes são os mesmos: negacionismos, políticos inescrupulosos babujando soluções mágicas, fake news. Pelo menos a mortandade de 1918/1919 acabou de repente – e sem vacina. Simplesmente as cepas virulentas se cansaram de circular, fizeram a mala e voltaram para onde não deveriam ter saído. Que aconteça o mesmo com o Sars-Cov2 e seus descendentes. Todo mundo merece – inclusive os que não.

Agora, para terminar com algum escapismo, quem você GOSTARIA de ser?

Eu, José Miguel Wisnik ou Mick Jagger.

Texto: Rodrigo Murat é Escritor

Imagem de rosi capurso por Pixabay

Agência Difusão

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