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O CINEMA BRASILEIRO E A “DECOLONIZAÇÃO”

O Cinema Brasileiro e a “decolonização”.

“Cinema é cachoeira, representação cósmica da nossa fantasia…” disse certa vez Humberto Mauro, nossa grande referência cinematográfica. Nunca entendi quando, no primeiro ano de cinema na faculdade, na disciplina História do Cinema, o primeiro longa-metragem exibido foi de D. W. Griffith e não de Humberto Mauro.

Humberto Mauro foi um cineasta independente brasileiro. Montou seu próprio estúdio em Minas Gerais, adquiriu sua primeira câmera e começou a filmar em 1925. “Brasa Dormida”, Sangue Mineiro”, “Ganga Bruta”, “O Descobrimento do Brasil”, “Favela dos Meus Amores” são obras primas do cinema.

Mais tarde, no INCE, Instituto Nacional de Cinema Educativo, realizou mais de 300 documentários de curta-metragem, filmes que poderiam ser incorporados nos currículos das escolas do ensino fundamental. São lindas as imagens da natureza brasileira. Humberto Mauro ainda foi um estudioso da língua tupi. Pena ser tão pouco conhecido.

Outro destaque necessário da cinematografia brasileira é o filme “Limite” de Mário Peixoto com fotografia de Edgar Brasil. Síntese estética da vanguarda modernista, “Limite” é distopia do progresso e, sem dúvida, indispensável para se entender a formação do cinema brasileiro independente.

A partir desses dois principais representantes, um grupo de cineastas brasileiros iriam adotar o chamado cinema de autor: expressão caracterizada pela busca de uma personalidade artística de processo de criação e produção independente (embora o cinema seja coletivo, com equipe de técnicos, atores, assistentes, etc, ele é autoral na concepção artística do diretor).

Esse grupo ficou conhecido como “Cinema Novo” e inaugurou a discussão sobre a possibilidade de uma política capaz de dar acesso a esse cinema autoral com questionamentos sobre o imperialismo que dominava as telas brasileiras. E ainda domina.

O cinema brasileiro, que cresce muito em produção, enfrenta as dificuldades geradas pela herança da colonização. É necessário considerar o cinema como meio da desconstrução das narrativas sobre o progresso para restaurar as vozes, as experiências, as identidades, as histórias, a importância das comunidades periféricas e das memórias coletivas.

Ele é capaz de desfazer a cultura do silêncio, de apresentar as contradições opressor oprimido e até de remontá-las para superar as marcas da colonialidade impressa na memória social dos povos colonizados. O cinema rompe com a sonegação dos conhecimentos populares, camponeses ou indígenas e abraça os diversos saberes sem hierarquizar nenhum.

Diante da sua compreensão das perspectivas, das cosmologias e dos olhares de pensadores, a partir de corpos e lugares étnicos ou sexuais subalternos, vai contra uma monocultura do saber por meio de processos de investigação para finalmente ser contra o prejuízo da experiência que o imperialismo impôs ao mundo pela força.

Texto: Renata Saraceni (cineasta e produtora)

Agência Difusão

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