Como retratação ao fato de, artigos atrás, eu ter duvidado da qualidade do último disco do Caetano – “Meu Coco” – faço aqui essa loa em forma de conversa de Whatsapp.

Hey man, já ouviu o disco novo do Caetano?
Yes, man. O tio Gogô me trouxe.
Tio Gogô?
O algoritmo. Eu gosto de chamar de Gogô pra desassombrar.
E aí, gostou?
“Muito”.
É “Joia”.
“Cinema transcendental”.
Puta “Abraçaço”.
Eu achei do carai.
Estou tentando agora é arrumar tempo pra decorar as letras.
Cada catatau enciclopédico na linha do “Ele me deu um beijo na boca”.
O disco é praticamente uma aula de história,
cultura,
passado,
presente,
futuro,
tudo junto e faturado.

Pode crer.
o problema é que hoje em dia
com plataforma digital
a gente não decora mais nada.
são seiscentas músicas/dia.
uma vai puxando a outra,
eu começo ouvindo Beethoven,
quando vejo estou na Gretchen.
na época do LP,
eu comprava um disco
e ficava escutando
dias, semanas,
as mesmas 10/12 faixas.
Eu sempre fiz isso.
Até hoje eu sei de cor a letra de “Outras Palavras”.
Sério?
“Nada dessa cica de palavra triste em minha boca/
Travo/trava/mãe/e papai/alma buena/dicha louca”
Eu não sei nem a de “Baba Baby”. kkk.
Minha memória foi pro saco. kkk.
O meu sonho é encontrar o Caetano no aeroporto
Ia cantar o disco “Uns” todinho pra ele.
“Uns vão. Uns dão. Uns são. Uns hão de. Uns pés. Uns mão. Uns cabeça. Uns só coração. Uns dias fim. Uns dizem sim. E não há outros.”

Caraca!
É capaz do homem catar a mala e te deixar cantando “Sozinho”.
“Às vezes no silêncio da noite eu fico imaginando nós dois!”
Kkk.
Será que ele é estrela?
Claro, man! O cara é leonino!
Leonino com ascendente em Paula Lavigne e lua em Maria Bethânia!
kkk
Acho que ele não vai gostar muito de te ver não, leãozinho.
Você ouviu “GilGal”?
Parece aquelas músicas-mantra que ele fazia nos anos 70.
Tipo “Guá”, “Gravidade”, “A Grande Borboleta”.
Se você botar pra tocar dez vezes seguidas,
Tua alma vai pro espaço
E, quando você vê, você tá no Himalaia.
Boa.
Estou precisando dar uma espairecida.
Ele já tinha sacado esse lance de GilGal na música “Este Amor”.
Tem o verso: “Se alguém pudesse erguer o seu Gilgal em Betania.”
Betanía sem acento nem h, com sílaba tônica no i. Tipo francês falando.

Vdd.
Sempre que eu ouço, eu penso no Santo Graal.
Gilgal como um cálice sagrado.
Betanía como um país mesopotâmico engolido pelo Mar Salgado.
Será que foi essa a intenção?
Pode deixar.
Se eu encontrar com o cara no aeroporto, eu pergunto.
“Oi, Caetano, você pode me dar dois minutinhos do seu tempo? Ou não?”
Kkk.
E o Bozo, você acha que cai?
Pô, meu, a gente aqui falando no antídoto, você traz o veneno?
Tá puxado, né?
O Brasil era para principiantes.
Agora tá para pós-doutores.
Todo mundo tendo de analisar semiologicamente cada tico e teco,
cada lé com cré.
Melhor ouvir o “Créu”!
☺☺☺☺☺☺☺

Rodrigo Murat é escritor

Imagem de Pixaline por Pixabay

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