Michel Foucault foi filósofo, professor, psicólogo e escritor francês. Dono de um estilo literário único, Foucault revolucionou as estruturas filosóficas do século XX ao analisá-las por meio de uma nova ótica. Profundamente influenciado por Nietzsche, Marx e Freud, o filósofo contemporâneo também recebeu influências do filósofo e amigo Gilles Deleuze, da medicina e da psiquiatria.
Podemos dividir o trabalho de Foucault em três partes distintas: uma produção que perdurou até a década de 1960, em que ele faz o que chamou de “arqueologia” das ciências humanas, da literatura, da escrita e do pensamento em geral; uma segunda fase, já nos anos 70, na qual o pensador preocupou-se com as formas de subjetivação e poder, tecendo análises filosóficas mediante o método genealógico; por último, a fase em que escreveu O cuidado de si, como o terceiro volume publicado da coletânea História da Sexualidade.
Paul-Michel Foucault nasceu no dia 15 de outubro de 1926, em Poitiers, na França. Seus pais chamavam-se Paul Foucault e Anna Malapert. O pai de Foucault era cirurgião e professor de anatomia, e os seus avôs (tanto o paterno quando o materno) também eram cirurgiões, o que mostra que a medicina sempre esteve presente na sua educação e formação. Porém, o jovem passou a interessar-se por história, o que decidiu o restante de sua carreira.
O interesse pela filosofia apareceu ainda na juventude de Foucault, o que o levou a uma busca precoce por leituras na área. Apesar dos anseios paternos para que o filho se tornasse médico, o jovem decidiu, a contragosto do pai, estudar Filosofia, posição apoiada por sua mãe, pessoa com quem o filósofo nutria uma relação muito afetuosa. Com seu pai, ao contrário, Foucault não se dava muito bem.
Foucault mudou-se para Paris, em 1945, e iniciou os seus preparos para ingressar no ensino superior. Nessa época, conheceu o filósofo e professor Jean Hyppolite, que apresentou ao novo aluno o pensamento de Hegel. Ingressou na École Normale da rue d’Ulm para estudar Filosofia no ano de 1946. Sua personalidade introspectiva foi acentuando-se ao longo do tempo no centro de estudos, pois o filósofo recusava cada vez mais o contato com os colegas, por conta do clima de disputa do local.
Ele tentou suicídio pela primeira vez em 1948 e passou a ser acompanhado por avaliações psiquiátricas constantes. Uma das causas que levaram ao problema psiquiátrico do filósofo foi a sua homossexualidade, ainda em fase de descoberta e em dificuldade de aceitação de si mesmo.
No ano de 1948, o filósofo licenciou-se em Filosofia e, no ano seguinte, em Psicologia. Tornou-se assistente de ensino na Universidade de Lille e terminou seu curso de Psicologia Patológica, em 1952. O filósofo lecionou e proferiu conferências e palestras em diversas universidades na França, Alemanha, Estados Unidos e Suíça, estando, inclusive, na Universidade de São Paulo (USP), em 1965 e 1975.
Foucault também trabalhou como psicólogo patologista em diversos hospitais psiquiátricos e presídios, o que forneceu elementos empíricos para a constituição de algumas de suas obras, como Vigiar e punir e História da loucura.
A publicação de As palavras e as coisas, em 1966, abriu portas para que o jovem professor de Filosofia e Psicologia se tornasse conhecido no cenário intelectual mundial. Ele ministrou cursos, palestras e conferências, participou de debates e desenvolveu uma vasta obra filosófica. Em 1968, Foucault, assim como Deleuze, Marcuse, Sartre e tantos outros professores universitários ilustres, envolveu-se com a luta estudantil deflagrada no mês de maio daquele ano na França, a qual atingiu setores educacionais no mundo todo. Na época, Foucault lecionava na Tunísia.
Logo após, em 1969, o pensador publicou A arqueologia do saber, livro que restaurou e encerrou a sua primeira fase de pensamento. Já em 1970, Foucault foi aceito em processo seletivo para ocupar a cátedra de Jean Hyppolite, no Collège de France, com a aula inaugural A ordem do discurso, publicada no mesmo ano.
Em 1975, ele publicou Vigiar e Punir – a história da violência nas prisões. No ano seguinte, publicou o primeiro volume da coletânea História da Sexualidade, intitulado A vontade de saber. Em 1984, publicou os dois últimos volumes da série, que deveria conter seis volumes, intitulados O uso dos Prazeres e Cuidado de Si. O motivo da interrupção do trabalho foi a morte do pensador aos 57 anos de idade. A sua morte decorreu de complicações causadas pela aids.
Amado por uns e odiado por outros, por conta de seus escritos, de sua visibilidade nos anos 70 e de sua atuação política, sempre voltada para a esquerda (mas sempre recebendo, também, duras críticas de pensadores e ativistas da esquerda), Foucault foi um dos filósofos mais aclamados do século XX.
Influenciado, principalmente, por filósofos e escritores como Marx, Freud, Bachelard, Lacan, Heidegger, Nietzsche, Blanchot, Sade, Kafka, entre outros, o seu tipo de escrita e de método filosófico, junto ao de pensadores como Nietzsche, Deleuze e Derrida, começou a ser chamado, por detratores, de pós-moderno.
No âmbito acadêmico, alguns classificaram Foucault como pós-estruturalista, título que ele mesmo recusava. É fato que sua obra, assim como a de tantos outros, como a de seu amigo Deleuze, de Sartre, de Beauvoir e, como início de tudo, a de Nietzsche, rompeu com as estruturas tradicionais da Filosofia feita até o século XIX, essencial e dogmaticamente voltada para a análise estruturada da racionalidade e de suas formas.
Como foi dito, a obra foucaultiana pode ser dividida em três períodos: o Foucault arqueológico, o Foucault genealógico e o último Foucault. Os períodos apresentam ideias e temas diferentes sobre os quais o filósofo debruçou-se.
Ficou marcado por uma busca de estabelecer um estudo utilizando o que ele chamou de método “arqueológico” das estruturas das ciências humanas, em especial da História e das Ciências Sociais. Também foram examinadas à exaustão, nesse período, a Filosofia, a Linguística e a Literatura. As principais obras do período arqueológico são As palavras e as coisas e Arqueologia do saber.
Esse período foi marcado, essencialmente, pela publicação das obras A verdade e as formas jurídicas, Vigiar e punir e Vontade de saber (esse último como o primeiro volume de História da Sexualidade). Nesse momento, o filósofo francês passou a se preocupar com as formas de poder e subjetivação na sociedade.
Profundamente influenciado por seus anos de clínica psicológica em manicômios e prisões e pelo método genealógico de Nietzsche (ferramenta intelectual adaptada e aprimorada por Foucault para o seu trabalho), o filósofo passou a tentar estudar, por meio de uma complexa reconstrução histórica e cultural de cenários complexos, a formação do que ele denominou de sociedade disciplinar.
Segundo o filósofo, a humanidade seria organizada em formas diferentes e em momentos diferentes mediante o modo que ela lida politicamente com elementos relacionados à vida (biopolítica). Entre esses modos de organização, o filósofo encontrou, entre as sociedades modernas e a sociedade contemporânea, uma diferença crucial, em especial o modo de domínio político nas antigas monarquias e nos sistemas políticos recentes. O pensador caracterizou essas diferenças como relações microfísicas e macrofísicas, descritas a seguir:
Nietzsche aparece mais uma vez na teoria foucaultiana, dessa vez com mais força. O filósofo francês utilizou as teorias de seu influenciador alemão, sobretudo nas análises dele sobre os gregos antigos, para imergir na cultura grega em O uso dos prazeres e desvendar o modo como a sociedade grega encarava a sexualidade.
Nesse último período, uma nova maneira ética também apareceu e deu nome, “Cuidado de si”, ao seu último escrito publicado. Os dois últimos volumes de História da Sexualidade, além de artigos acadêmicos, compõem a totalidade da obra publicada no último Foucault.
Por Francisco Porfírio
Professor de Filosofia
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