É impressionante como as redes sociais instrumentalizaram e alavancaram o sentimento muito antigo – para não dizer bíblico – da Vaidade. O efeito, a borbulha, o filtro que mascara o real e o edulcora na tentativa da obtenção de cada vez mais influenciadores reinando sobre influenciados. Hoje, tudo parece feito – cada ato vivido – para encontrar ressonância no compartilhamento multiplicado. Para que a beleza de um pôr do sol seja completo, não basta mais tão somente olhá-lo e distraidamente frui-lo. É preciso a foto – se possível, a selfie – enviada aos seguidores na expectativa-ânsia dos likes de ratificação e acolhimento. A solidão, a monotonia natural da vida e o tédio que a acompanha nunca foram tão nefastos, e a ilusão de que é possível empurrá-los para baixo do tapete vermelho da fama está, mais do que nunca, ao alcance de todos. (Alterno “todes” e “todos” para agradar aos gregos e troianos que em mim habitam. É que depois de mais de meio século aprendendo que “todos” inclui todas, resta esta luta interna da força cristalizada do estilo versus a luta externa, mais do que justificada, da visibilidade dos gêneros através das palavras que nos nomeiam.)
TEATRO PRA POSTAR NO INSTAGRAM
Essa ideia – com cara de título e, por isso, escrita em caixa alta – me veio depois de assistir ao espetáculo de uma atriz conhecida – conhecida minha, não do público – num anfiteatro do Rio. Trata-se de um monólogo cercado de todos os cuidados formais para que pareça algo culturalmente relevante, com nomes robustos na ficha técnica. A receita: pegue um clássico – Shakespeare, Homero ou Cervantes –, coloque dois dedos de erudição pessoal fajuta, contrate uma galera grifada para dar cartaz ao cartaz, leve ao forno e sirva frio. De fato, eu e a amiga que me acompanhava na jornada sentimos um frio incrível num dia de temperatura amena de outono, pois no anfiteatro a céu aberto ventava a ponto de deixar a atriz-coautora-codiretora-coprodutora com rinite, enquanto o cenário voava.
O mais curioso é que quase o tempo todo dos cinquenta minutos da apresentação, a moça esquecia e se enroscava nas palavras do texto que ela própria escreveu, demonstrando uma total falta de intimidade com o que lhe deveria ser intrínseco. Parecia que uma substituta tinha sido subitamente alçada à cena e claudicasse por falta de tempo e ensaio. Mas no Instagram a peça parece ótima, com fotos incríveis e legendas motivadoras.
A vida virou um conto do vigário. É preciso estar com o terço em mãos e a mente atenta.
Rodrigo Murat é escritor
Imagem: by Rondell Melling from Pixabay
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